segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MEUS EUS



Eu sou muitas, duas ou mais ,as vezes todas ao mesmo tempo.Não as compreendo todas,a maioria das vezes ignoro muitas de mim.Nem sempre aceito o modo de agirem ,mas sei que se não as tivesse ,eu seria sozinha.Elas me fazem companhia nos meus sucessivos exílios,pois sou várias ,umas tão corretas,outras tão desprezíveis a vossos olhos.Umas santas outras defeituosas como todo ser humano.Sou muitas,perdidas em mim,e todas elas,tem me sido úteis.

NOS MEUS DIAS RUINS



Em dias ruins as linhas que me suturam, descosem e me deixam a mostra:
minha carne branca manchada de mulher;
pedaços de rebeldia nos olhos;
bolores nos ossos e uma esperança brotando nos músculos,
minha pele abismo sem fundo com, demônios de facas afiadas matando sonhos meus mal paridos ,galáxias orbitando nas veias,o mar mediterrâneo nos poros;buracos nos labirintos das idéias ...Nesses dias sentiras um fedor que sai do meu coração por meus fantasmas enforcados.

FORA DA CASINHA



Fora da casinha
quando não moro mais dentro
quando me esqueço dentro do sono, levanto e esqueço-me de desabotoar os olhos, e o corpo perde o equilíbrio por ter esquecido os pés numa fuga
quando me esqueço num ônibus qualquer, numa estação longe de mim
quando caio inteira no chão pelo rasgo da bolsa junto com os documentos e fico nos achados e perdidos esperando por mim
esperando que eu me ache, que eu me leve
para casa de novo

SOMOS NADA

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DIA DA MULHER









Cantem hinos,
digam de sua pele lisa de sua beleza transcendental
Mas não se esqueçam de falar de toda violência consentida.De todos os golpes crus e ocres em seu corpo ,de todas as mãos que a arrastam em solenes martírios e sacrifícios
falem de todas as burcas confeccionadas com linhas abstratas de julgamento e superioridade

Digam do sentimento puro e maternal
Mas não se esqueçam de falar das violações ignoradas
Dos espaços invadidos.Limites negados

Digam de sua boca de seda, púrpura
Mas não esqueçam de falar das bocas graciosamente emudecidas e de todas as mordaças negras

Digam da sua pureza e castidade
Mas não esqueçam de falar das leis que só a permitem a ser objeto penetrado , submisso e obediente

Digam de sua bondade e meiguice
Dos seus recatos ingênitos de pudores e hosanas
FALEM,MAS FALEM de todas as santas Marias que profanam

Digam das suas mãos macias
Não se esqueçam de falar das correntes invisíveis e psíquicas
E dos dedos trincados por anéis dourados

Digam de seus olhos belos amendoados
Mas não se esqueçam de falar das retinas manchadas de sofrimento

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

TRANSMUTAÇÃO DIÁRIA



sou espírito com manta tecida de insaciabilidade-
matéria intensa cheia de carne revolvida,germinando instintos ferozes , com camadas de sensíveis egoísmos,perdões solenes ,risadas quebradas pelo ruído das tragédias e sacrifícios ,chorando a dolência das veias que vibram na efervescência dos sonhos. tenho ódios requintados,rubores majestosos nas linhas da pele desenrolada das longas eras e degelos
fibras desesperadamente unidas ao branco virginal das trompas que germinam rios claros de esperança;numa trasfiguração martirizada , expressão sagrada por glórias trágicas.A cada dia tirando camadas grossas de isolamento,cobrindo-me com os longos mantos da transmutação diária.

NÃO IGUAL




sete mil chaves nunca abrirão minhas sete mil portas ,estou segura
debaixo dos meus sonhos com os olhos acorrentados na cor da tempestade
ninguém me adivinha a proporção da indignação;o instante onde abandonei-me
não adivinham os espaços que em mim crescem as extremidades que em mim habitam
me olham ,não me solucionam os círculos
não compreendem a inclinação de minhas órbitas que giram na velocidade exata para me arrastarem para o vácuo
não me desvendam ,sou de material desigual ,diferente das matérias arcaicas e duras que compreendem.