Cantem hinos,
digam de sua pele lisa de sua beleza transcendental
Mas não se esqueçam de falar de toda violência consentida.De todos os golpes crus e ocres em seu corpo ,de todas as mãos que a arrastam em solenes martírios e sacrifícios
falem de todas as burcas confeccionadas com linhas abstratas de julgamento e superioridade
Digam do sentimento puro e maternal
Mas não se esqueçam de falar das violações ignoradas
Dos espaços invadidos.Limites negados
Digam de sua boca de seda, púrpura
Mas não esqueçam de falar das bocas graciosamente emudecidas e de todas as mordaças negras
Digam da sua pureza e castidade
Mas não esqueçam de falar das leis que só a permitem a ser objeto penetrado , submisso e obediente
Digam de sua bondade e meiguice
Dos seus recatos ingênitos de pudores e hosanas
FALEM,MAS FALEM de todas as santas Marias que profanam
Digam das suas mãos macias
Não se esqueçam de falar das correntes invisíveis e psíquicas
E dos dedos trincados por anéis dourados
Digam de seus olhos belos amendoados
Mas não se esqueçam de falar das retinas manchadas de sofrimento